Quando pensamos em piratas, imediatamente imaginamos homens com espadas, chapéus e mapas do tesouro. Mas a verdade é que, desde os tempos antigos, muitas mulheres também participaram dessa vida destemida e cheia de desafios.
Elas não eram apenas acompanhantes ou curiosas nos navios; muitas vezes, lideravam seus próprios grupos, comandavam embarcações e se destacavam por sua inteligência e bravura.
A presença feminina na pirataria pode parecer surpreendente, porque viveram numa época em que as mulheres tinham papéis limitados na sociedade. Porém, ao longo da história, elas encontraram nas rotas marítimas uma forma de liberdade e poder, mesmo em mundos dominados pelos homens.
Na Ásia, principalmente na China, a pirataria ganhou contornos complexos no século XIX, com figuras como Ching Shih, que reuniu milhares de piratas sob seu comando, criando um dos maiores e mais organizados esquadrões piratas da história. Sua liderança não só desafiou governos locais como também impôs regras rígidas para manter a ordem dentro do seu grupo.
Já na Europa e nas Américas, especialmente no Caribe do século XVIII, outras mulheres fizeram história. Anne Bonny, por exemplo, é uma das piratas mais famosas desse período. Ela não apenas navegou ao lado dos homens, mas ganhou destaque pela sua coragem nas batalhas e pela sua personalidade forte — características que a tornaram um símbolo de resistência contra as estruturas de poder da época.
Além dessas, outras mulheres como Mary Read e Grace O’Malley também entraram para as páginas da história como exemplos de força e determinação, mostrando que a pirataria feminina foi um fenômeno que cruzou continentes e culturas.
Neste artigo, vamos conhecer melhor essas histórias e entender como essas piratas lendárias desafiaram impérios e conquistaram seu espaço, deixando um legado que ultrapassa o tempo e continua inspirando até hoje.
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Ching Shih: A Senhora dos Mares da China
Quando falamos de piratas lendárias, é impossível não destacar Ching Shih, uma mulher que se tornou a verdadeira senhora dos mares na China do século XIX.
Ching Shih nasceu na China por volta de 1775. Sua vida tomou um rumo inesperado quando conheceu o famoso pirata Zheng Yi, que a levou como sua esposa.
Zheng Yi comandava uma grande frota de piratas que atuava nas águas da região, e Ching Shih logo se destacou como uma presença forte e respeitada dentro desse grupo.
Em 1807, depois da morte de Zheng Yi, Ching Shih assumiu o comando dessa imensa frota, composta por centenas de navios e milhares de piratas.
Por sua liderança firme e habilidosa, ela ficou conhecida como “A Viúva do Capitão”, ganhando respeito e deixando sua marca na história dos piratas.
Ching Shih assumiu o comando do maior esquadrão pirata da história, que chegou a reunir mais de 300 navios e cerca de 20 mil piratas sob sua liderança. Mais do que apenas uma chefe imponente, ela transformou seu grupo em uma verdadeira organização poderosa, com regras claras, disciplina rigorosa e uma estrutura eficiente, algo raro entre os piratas daquela época.
Uma das grandes forças de Ching Shih foi sua capacidade de unir diferentes grupos piratas, criando uma coalizão quase invencível. Ela impôs um código de conduta que regulava desde o comportamento dos piratas até a divisão dos saques. Esse código ajudou a manter a ordem e a aumentar a eficácia das suas operações, o que, por sua vez, aumentou o medo e o respeito que seus inimigos tinham por ela.
O impacto político de Ching Shih foi enorme. Seu controle estratégico das rotas marítimas desafiou o poder do governo chinês, das frotas militares e até de potências estrangeiras. Ela negociou termos de rendição que garantiram seu perdão e até um certo reconhecimento oficial, algo incomum para piratas da época, especialmente para uma mulher.
Entre as curiosidades que cercam sua história, destaca-se sua habilidade em manter uma imagem de autoridade e respeito.
Ching Shih não apenas foi uma guerreira, mas também uma diplomata e estrategista, o que lhe garantiu um lugar único na história da pirataria mundial.
Além disso, diferentemente de muitos piratas que vivem na ficção, ela nunca foi capturada ou derrotada em batalha, provando que sua reputação de “Senhora dos Mares” foi conquistada com justiça e talento.
Anne Bonny: A Pirata Rebelde do Caribe
Anne Bonny foi uma pirata irlandesa que marcou a história durante a chamada Era Dourada da Pirataria no início do século XVIII.
Nascida entre 1690 e 1700 na Irlanda, mudou-se ainda criança para a Carolina do Sul com sua família.
Desde cedo, sua mãe a vestia como menino, prática comum na época para facilitar a vida das crianças nas Américas.
Anne cresceu rebelde e, contra a vontade do pai, casou-se com James Bonny, um ex-pirata que tentava levar uma vida tranquila nas Bahamas.
O mar, entretanto, chamou Anne para uma vida de aventura. Ela abandonou James para embarcar com o famoso pirata inglês John Rackham, conhecido como “Calico Jack” pela sua roupa simples.
Juntos, conduziram uma tripulação pequena, mas notável pela presença de duas mulheres piratas — Anne Bonny e Mary Read — raridade naquela época, pois a maioria dos piratas proibia mulheres a bordo.
Diferentemente do imaginário popular, Anne e Mary usavam roupas masculinas somente em combate, quando empunhavam armas com valentia.
Em 1720, enquanto ancorados perto da Jamaica, a tripulação foi atacada por autoridades locais.
John Rackham e a maioria dos homens foram facilmente capturados, muitos provavelmente embriagados, enquanto Anne e Mary Read resistiram bravamente antes de serem rendidas.
Julgadas por pirataria, ambas foram sentenciadas à forca.
No entanto, suas execuções foram suspensas ao revelarem que estavam grávidas — prática comum da época que protegia mulheres grávidas da pena de morte. Mary Read morreu na prisão pouco depois, vítima de febre.
O destino final de Anne é incerto; relatos sugerem que ela pode ter fugido, sido perdoada ou até vivido seus últimos anos em relativa tranquilidade, mas nada é confirmado.
Anne Bonny ganhou fama também graças à obra “História Geral dos Roubos e Assassinatos dos mais Notórios Piratas”, publicada na década de 1720 por um autor misterioso atribuído a Daniel Defoe.
O livro mescla fatos com ficção e ajudou a criar a imagem romântica e ousada que temos hoje dos piratas.
Essa biografia literária retrata Anne como uma mulher decidida e aventureira, que rejeitou a vida confortável para se lançar na pirataria ao lado de homens como John Rackham, desafiando as convenções de seu tempo.
Outras Piratas Famosas que Desafiaram Impérios
Além de Ching Shih e Anne Bonny, a história da pirataria conta com outras mulheres incríveis que desafiaram impérios e deixaram marcas importantes em seus tempos. Vamos conhecer brevemente três dessas figuras que merecem destaque pela coragem, liderança e determinação.
Grace O’Malley: A Destemida Rainha Pirata da Irlanda
Grace O’Malley, nascida em 1530, foi uma figura lendária da Irlanda do século 16, conhecida como a rainha pirata que desafiou a coroa inglesa e a própria rainha Elizabeth I. Filha do lorde do clã O’Malley, uma tradicional família de navegadores, Grace cresceu entre fortalezas e castelos à beira-mar, aprendendo a comandar galés e a dominar as águas do Condado de Mayo por mais de quatro décadas.
Desde jovem, Grace demonstrou sua determinação ao cortar os cabelos longos para poder viajar com o pai, contrariando restrições machistas da época – um gesto que lhe rendeu o apelido “Gráinne Mhaol”, que significa “Grace careca”.
Criada em meio a uma cultura de pirataria, onde seu clã cobrava tributos até de pescadores ingleses, ela casou-se em 1546 com o líder do clã O’Flaherty, com quem teve três filhos. Após a morte trágica de seu marido, Grace assumiu ainda mais firmeza em seu papel de líder.
Grace se destacou na luta contra a crescente dominação inglesa na Irlanda. Mesmo presa e ameaçada de morte pelo governador inglês Sir Richard Bingham, continuou firme diante das adversidades.
Em 1593, enfrentando desafios financeiros e políticos, enviou uma petição diretamente à rainha Elizabeth I, buscando apoio e respeito para o seu povo.
Em 1594, Grace viajou à Inglaterra para negociar pessoalmente com Elizabeth I no castelo de Greenwich. Elizabeth concedeu alguns pedidos, mas exigiu que Grace cessasse suas atividades rebeldes. O acordo, porém, foi desfavorável para Grace, que viu parte de seus territórios permanecerem sob controle inglês.
Mesmo após o encontro, Grace continuou apoiando seus aliados na resistência contra os ingleses. Envolvida nos conflitos da Guerra dos Nove Anos, enfrentou o declínio de seu poder e território. Ela faleceu em 1603, deixando um legado de coragem e luta pela independência da Irlanda.
Como descreveu a biógrafa Anne Chambers em 2006, Grace O’Malley foi “uma política pragmática, uma saqueadora implacável, uma rebelde” e, acima de tudo, “uma mulher que quebrou o molde”, deixando um papel único na história.
Jeanne de Clisson: A Leoa da Bretanha
Jeanne de Clisson, nascida em 1300 na Bretanha, foi uma nobre que se tornou uma temida pirata no século 14. Casou-se duas vezes e teve sete filhos. Seu segundo marido, Olivier de Clisson, foi acusado de traição e executado em 1343, o que despertou nela um desejo profundo de vingança contra a nobreza francesa, especialmente contra o rei Filipe VI.
Para financiar sua luta, Jeanne vendeu suas terras e formou a “Frota Negra”, um grupo de três navios de guerra com velas vermelhas e casco preto, símbolo da sua revolta.
Ela navegou pelo Canal da Mancha atacando navios franceses.
Aliada dos ingleses na Guerra dos Cem Anos, Jeanne ajudou a impedir o domínio francês sobre a Bretanha.
Só se aposentou após a morte de Filipe VI, casando-se com Sir Walter Bentley, e passou seus últimos anos no castelo Hennebont, onde faleceu em 1359, deixando um legado de coragem e resistência.
A Influência das Piratas na Cultura Popular Atual
As histórias das piratas lendárias, como Ching Shih, Anne Bonny e tantas outras, atravessaram o tempo e hoje continuam a inspirar a cultura popular de diversas formas. Elas saíram das páginas da história para ganhar vida em livros, filmes, séries e até na verdade em videogames e artes, conquistando novos públicos e mostrando a força dessas mulheres além dos mares.
No mundo dos livros e filmes, as piratas femininas foram retratadas como símbolos de coragem, independência e rebeldia. Personagens baseados nelas aparecem em histórias que capturam a imaginação de leitores e espectadores, trazendo à tona não apenas as aventuras no mar, mas também questões sobre liberdade e igualdade.
Séries atuais têm explorado com mais profundidade a presença feminina na pirataria, valorizando suas histórias reais e dando a elas um espaço de destaque que antes era raro.
Nos videogames, a influência dessas figuras aparece através de personagens inspirados em piratas mulheres.
Conclusão
As histórias das piratas lendárias que conhecemos de Ching Shih a Anne Bonny, passando por Mary Read, Grace O’Malley e Jeanne de Clisson, revelam como as mulheres foram protagonistas em épocas marcadas por grandes desafios e transformações.
Ao conhecer suas trajetórias, ampliamos nossa visão sobre o papel das mulheres na formação do mundo como é hoje.
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REFERÊNCIAS
A vingativa pirata medieval Jeanne de Clisson, a Leoa da Bretanha. Disponível em: <https://historiablog.org/2023/07/09/a-vingativa-pirata-medieval-jeanne-de-clisson-a-leoa-da-bretanha/>. Acesso em: 30 maio. 2025.
CARTWRIGHT, M. Anne Bonny. Anne Bonny. Disponível em: <https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-19986/anne-bonny/>. Acesso em: 30 maio. 2025.
CENTAMORI, V. Grace O’Malley, a rainha pirata da Irlanda, que desafiou Elizabeth I. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/grace-omalley-a-rainha-pirata-da-irlanda-que-desafiou-elizabeth-i.phtml>. Acesso em: 30 maio. 2025.
Ching Shih: The Pirate Queen of the South China Sea. Disponível em: <https://www.piratesinfo.com/famous-pirates/ching-shih/>.
ROCHA, F. Da prostituição à pirataria: a incrível história de Ching Shih. Disponível em: <https://www.historiaemcortes.com.br/2023/03/ching-shih.html>. Acesso em: 30 maio. 2025.