A GRANDE MANCHA DE LIXO DO PACÍFICO

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By Éder Civitarese

A Grande Mancha de Lixo do Pacífico é um dos mais alarmantes exemplos da poluição marinha contemporânea, configurando-se como um vasto acúmulo de resíduos plásticos que se estende por impressionantes 1,6 milhão de quilômetros quadrados, o que equivale a cerca de três vezes o território da França.

Fonte: Caroline Power

Localizada entre a Califórnia e o Havaí, recebeu o apelido de o sétimo continente. Essa mancha abriga aproximadamente 80 mil toneladas de lixo, e,  apesar do seu tamanho, o continente de plástico do Pacífico é invisível para os satélites, pois 94% de sua constituição está formada por fragmentos minúsculos de plástico que se desprendem de outros maiores pela erosão.

O fenômeno não é isolado; outras manchas semelhantes também foram identificadas em diferentes partes dos oceanos, levantando preocupações entre cientistas marinhos sobre os impactos que esses acúmulos de resíduos podem ter sobre os ecossistemas marinhos.

A descoberta da ilha de plástico no Pacífico

Charles Moore foi o pioneiro a alertar o mundo sobre um grave problema ambiental. Em 1997, enquanto retornava de uma renomada regata náutica a bordo de seu veleiro, o capitão e oceanógrafo norte-americano ficou chocado ao se deparar com uma vasta extensão de plástico no oceano. O que deveria ser uma travessia tranquila se transformou em uma experiência alarmante, pois ele levou sete dias para atravessar essa imensa “ilha” de lixo flutuante.

Amostra de água da Grande Mancha de Lixo do Pacífico coletada pelo pesquisador Charles Moore, que descobriu essa área do oceano em 1997 (Foto: Jonathan Alcorn, Bloomberg/Getty)

A descoberta de Moore não apenas chocou a comunidade científica, mas também mobilizou esforços globais para enfrentar a crescente crise ecológica. Essa “ilha de lixo” no Pacífico se tornou um dos símbolos mais evidentes da poluição marinha e da degradação ambiental que afeta nosso planeta. Desde então, a conscientização sobre os impactos do plástico nos oceanos e a necessidade de ações para mitigar essa crise ganhou mais  destaque nas discussões sobre sustentabilidade e preservação ambiental.

Como se formam as ilhas de lixo

As ilhas de resíduos, como a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, se formam devido à interação de diferentes correntes marítimas que criam áreas de baixa mobilidade no centro desses giros oceânicos. Essa dinâmica é semelhante ao que ocorre no centro de um furacão, onde a calmaria permite o acúmulo de materiais. Assim, os resíduos que são lançados ao mar acabam sendo concentrados nessas regiões de tranquilidade, resultando em grandes aglomerados de lixo.

É importante destacar que os resíduos encontrados nessas ilhas são compostos por uma variedade de partículas flutuantes. Os objetos que conseguimos observar e coletar são aqueles que ainda permanecem na superfície da água. Com o passar do tempo e o acúmulo contínuo de resíduos, a flutuabilidade desses materiais pode ser alterada. Isso significa que muitos deles, ao se deteriorarem ou se tornarem mais pesados, acabam afundando e se depositando no fundo do mar. 

Portanto, a visibilidade dos resíduos na superfície não representa a totalidade do problema, já que uma parte significativa do lixo marinho se encontra submersa.

A origem do lixo

Embora o lixo seja proveniente de diversas regiões, as evidências científicas apontam que o continente asiático é a principal fonte dos resíduos que contribuem para a formação da Grande Mancha de Lixo no Pacífico.  

O estudo publicado na revista Nature revelou que, durante a investigação, dois terços dos objetos coletados apresentavam inscrições em japonês ou chinês. Os pesquisadores identificaram até nove idiomas diferentes entre os resíduos, sendo que o fragmento mais antigo encontrado datava do final da década de 1970. 

O oceanógrafo Laurent Lebreton, da fundação holandesa The Ocean Cleanup, destacou que a situação da poluição plástica nos oceanos está se agravando a cada dia. Durante a divulgação de uma pesquisa realizada pela fundação, ele afirmou: “Encontramos uma quantidade impressionante de plástico e precisamos de medidas urgentes para eliminar esse problema que afeta a Grande Mancha de Lixo do Pacífico”. 

Lebreton também mencionou que aproximadamente 20% dos resíduos encontrados na região podem ter chegado lá após o terremoto e o tsunami que ocorreram no Japão em 2011.

Além disso, o acúmulo de lixo nessa região também está relacionado ao aumento da pesca industrial no maior oceano do mundo.

Alteração da dinâmica dos ecossistemas

Recentemente, uma pesquisa publicada na revista Nature trouxe à tona uma descoberta surpreendente: algumas espécies costeiras estão começando a colonizar as águas abertas que cercam a ilha de lixo. Isso significa que organismos que normalmente não habitavam essas áreas estão se reproduzindo e estabelecendo novos habitats, aproveitando a presença do plástico como um suporte para sua sobrevivência.

De acordo com o especialista Alexander Turra, “normalmente, há poucos organismos que vivem em substratos duros navegando pelo oceano aberto, com algumas exceções. No entanto, com o aumento da quantidade de plástico nos oceanos, a disponibilidade de substrato para essas espécies aumentou significativamente.”

Atualmente, as consequências desse novo ecossistema são relativamente pequenas, uma vez que a maioria desses organismos atua como filtradores. Isso significa que eles não têm um impacto direto na cadeia alimentar marinha. No entanto, Turra alerta que esses organismos podem funcionar como vetores para espécies exóticas. Isso implica que espécies costeiras de um país podem se deslocar para essas áreas de lixo e, ao longo do tempo, colonizar novas regiões.

Dessa forma, além de criar um ecossistema exótico para o local, essas espécies podem se tornar invasoras, gerando uma série de impactos negativos na biodiversidade e na dinâmica ecológica da região de destino.

A introdução de espécies invasoras pode alterar as interações entre os organismos nativos, competir por recursos e até mesmo levar à extinção de espécies locais, comprometendo a saúde dos ecossistemas marinhos. 

Portanto, a questão da poluição plástica não se limita apenas ao acúmulo de lixo, mas também à transformação dos habitats e à introdução de novas dinâmicas ecológicas que podem ter consequências duradouras.

QUAIS SÃO AS POSSÍVEIS SOLUÇÕES?

Dentre as estratégias mais eficazes para enfrentar o atual cenário de poluição por plásticos, a prevenção se destaca como uma abordagem prática e necessária. De acordo com o especialista Alexander Turra, essa prevenção está alinhada com um Tratado em discussão na Assembleia Ambiental das Nações Unidas, cujo objetivo é combater a poluição ambiental causada por plásticos. Turra enfatiza que, para resolver esse problema, é fundamental implementar soluções desde o início da cadeia de produção do plástico.

O professor ressalta que, após a fabricação de diversos produtos plásticos, é crucial repensar a gestão desses materiais. Isso significa que, ao gerarmos resíduos, devemos considerar maneiras de reutilizá-los, evitando que retornem ao meio ambiente de forma inadequada.

Cabe destacar a dificuldade para realizar o manejo de resíduos plásticos após a sua utilização devido à dificuldade de reciclagem. Recentemente, o Centro de Integridade Climática (CCI), uma organização estadunidense, divulgou um relatório que critica a indústria de plásticos por promover a reciclagem desses materiais, mesmo ciente das limitações técnicas e econômicas que envolvem esse processo.

A reciclagem de plásticos é uma tarefa complexa, pois utilizamos uma ampla variedade de materiais plásticos em nosso cotidiano, cada um com características funcionais e químicas distintas. Embora todos esses plásticos sejam depositados no mesmo recipiente de coleta seletiva, a separação adequada de cada tipo é essencial para que a reciclagem seja realizada de forma eficaz.  

Contudo, há esperança no horizonte. Uma das principais inovações nesse campo é a descoberta de enzimas que têm a capacidade de decompor polímeros plásticos. Essas enzimas podem quebrar as longas cadeias de moléculas plásticas, convertendo-as em substâncias inofensivas, o que poderia representar um avanço significativo na gestão de resíduos plásticos e na proteção do meio ambiente.

Dessa forma,  as ações individuais podem desempenhar um papel importante na busca por soluções para essa problemática, a partir da reflexão sobre os produtos que consumimos e a forma como lidamos com os resíduos gerados a partir deles.

Uma abordagem integrada, que combine prevenção, gestão consciente e ações individuais, pode contribuir significativamente para a redução da poluição por plásticos e para a proteção do meio ambiente.

CONCLUSÃO

Essa situação levanta questões sérias sobre as consequências a longo prazo da poluição plástica, não apenas para a vida marinha, mas também para a saúde dos oceanos como um todo. A interação entre as espécies e os resíduos plásticos pode desencadear mudanças significativas nos ecossistemas, afetando a biodiversidade e a funcionalidade dos habitats marinhos.

Diante desse cenário, é crucial que a sociedade se conscientize sobre a gravidade da poluição plástica e suas implicações. A Grande Mancha de Lixo do Pacífico serve como um lembrete contundente da necessidade de ações urgentes para reduzir a produção de plástico e promover a conservação dos oceanos. 

REFERÊNCIAS

A Ilha do Plástico no Pacífico, o Sétimo Continente – Iberdrola. Disponível em: <https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/ilha-de-lixo-pacifico-setimo-continente>.

AMA. A Grande Mancha de Lixo no Pacífico – AMA. Disponível em: <https://news.ama.eco/a-grande-mancha-de-lixo-no-pacifico/>. Acesso em: 29 mar. 2025.

CHOI, C. Q. Lar, doce… lixo? A Grande Mancha de Lixo do Pacífico está repleta de vida. Disponível em: <https://www.nationalgeographic.pt/meio-ambiente/lar-doce-lixo-grande-mancha-lixo-pacifico-esta-repleta-vida_4087>. Acesso em: 29 mar. 2025.

Mancha de lixo do Pacífico se tornou lar para ecossistema próprio. Disponível em: <https://jornal.usp.br/radio-usp/mancha-de-lixo-do-pacifico-se-tornou-lar-para-ecossistema-proprio/>.

Mar de plástico. Disponível em: <https://revistaplaneta.com.br/mar-de-plastico-2/>. Acesso em: 29 mar. 2025.

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