1. Introdução
As hidrelétricas desempenham um papel crucial na matriz energética do Brasil, um país que se destaca por sua abundância de recursos hídricos e pela utilização de fontes renováveis para a geração de energia. Com uma capacidade instalada que representa cerca de 60% da eletricidade consumida, as usinas hidrelétricas não apenas garantem o abastecimento energético, mas também impulsionam o desenvolvimento econômico e social em diversas regiões.
No entanto, a construção e operação dessas usinas trazem consigo uma série de impactos ambientais e sociais que precisam ser cuidadosamente considerados.
Este artigo tem como objetivo abordar o histórico da energia hidroelétrica no país, o potencial das hidrelétricas e discutir os desafios e impactos associados à sua implementação, além de refletir sobre as perspectivas para um futuro sustentável na geração de energia renovável.
Ao abordar esses aspectos, buscamos promover uma compreensão mais profunda sobre a importância das hidrelétricas e a necessidade de uma gestão responsável e equilibrada dos recursos hídricos, garantindo que as gerações futuras também possam usufruir dos benefícios que essa fonte de energia oferece.
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2. Breve histórico da energia hidrelétrica no Brasil
No Brasil, a primeira usina hidrelétrica começou a operar em 1883, localizada no ribeirão do Inferno, um afluente do rio Jequitinhonha, na cidade de Diamantina, Minas Gerais. Esta usina foi construída em uma queda d’água de 5 metros e contava com dois dínamos Gramme, cada um com potência de 8 HP, que geravam energia suficiente para acionar bombas d’água, utilizadas na remoção de formações rochosas nas minas de diamante. Com o tempo, a usina passou a fornecer energia para o abastecimento da cidade, e a linha de transmissão associada tinha uma extensão de 2 km.
Em 1887, uma nova usina foi inaugurada no rio Macacos, em Nova Lima, Minas Gerais. Esta usina tinha uma capacidade de 500 HP e operava em uma queda de 40 metros, destinada a atender as necessidades de uma mina de ouro e também para iluminação pública.
Dois anos depois, em 1889, a Usina Marmelos Zero foi colocada em funcionamento no rio Piabanha, também em Minas Gerais, pela Companhia Mineira de Eletricidade. Foram instalados dois grupos de geradores, cada um com potência de 126 kW, fabricados pela empresa americana Max Nothman & Co, com o objetivo de fornecer energia para a cidade de Juiz de Fora. Em 1891, um terceiro gerador, com potência de 125 kW, foi adicionado para atender a demandas industriais.
Já durante as décadas de 1950 e 1960, o Brasil vivenciou um crescimento acelerado na construção de usinas hidrelétricas, com destaque para a Usina de Furnas, inaugurada em 1963, que se tornou um símbolo do potencial hidrelétrico brasileiro.
A partir da década de 1970, o Brasil consolidou sua matriz energética com a construção de grandes usinas, como a Usina de Itaipu, que começou a operar em 1984, localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai.
Em 1995, o setor elétrico brasileiro passou por um processo de reestruturação significativo. Essa mudança visou modernizar e tornar mais eficiente a gestão da energia elétrica no país. Como parte desse processo, foi estabelecida a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) em 1996, com a função de regular e fiscalizar o setor elétrico, garantindo a qualidade dos serviços prestados e a proteção dos consumidores.
Em 1998, foi criado o Operador Nacional do Sistema (ONS), responsável pela coordenação e supervisão da operação do sistema elétrico, assegurando que a geração e a distribuição de energia ocorressem de forma integrada e eficiente. Essas iniciativas foram fundamentais para a transformação do setor elétrico brasileiro, promovendo maior competitividade e segurança no fornecimento de energia.
No entanto, nos anos 2000, o Brasil enfrentou desafios relacionados à sua dependência da energia hidrelétrica, especialmente durante períodos de seca, que afetaram os níveis dos reservatórios.
A crise de energia de 2001 levou a uma reavaliação das políticas energéticas, resultando em um aumento no investimento em fontes alternativas, como a energia eólica e solar. Ainda assim, a hidroeletricidade continua a ser a principal fonte de energia do país, representando cerca de 60% da matriz elétrica nacional.
3. Potencial Hidrelétrico
O Brasil possui um dos maiores potenciais hidrelétricos do mundo, devido à sua vasta extensão territorial e à abundância de recursos hídricos. O Brasil possui um impressionante potencial, estimado em 172 gigawatts (GW).
Desse total, mais de 60% já foram utilizados para a geração de energia. Cerca de 70% do potencial ainda não explorado encontra-se nas bacias hidrográficas da Amazônia e do Tocantins-Araguaia. Essas regiões, ricas em recursos hídricos, representam uma oportunidade significativa para o desenvolvimento de novas usinas hidrelétricas, que poderiam contribuir para a matriz energética do país e atender à crescente demanda por eletricidade.
A bacia hidrográfica com maior potencial já instalado é a bacia do Paraná.
Para entender melhor o papel das bacias hidrográficas recomendamos a leitura do artigo Bacias Hidrográficas do Brasil: Ecologia e Sustentabilidade
A exploração sustentável desse potencial é crucial para garantir um equilíbrio entre o fornecimento de energia e a preservação ambiental.
Além de garantir a segurança energética, o potencial hidrelétrico brasileiro quando bem utilizado também é crucial para o desenvolvimento econômico, pois permite a geração de empregos e a promoção de atividades industriais.
4. Principais Usinas Hidrelétricas
De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil possui um robusto sistema de geração de energia hidrelétrica, com um total de 219 usinas hidrelétricas de grande porte em operação. Além dessas, existem 425 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e 739 centrais geradoras hidrelétricas (CGHs). Juntas, essas centrais representam uma parte significativa da matriz energética do país. Em 2021, as centrais hidrelétricas foram responsáveis por 62,48% da potência instalada de energia elétrica no Brasil e por 67% de toda a eletricidade gerada.
É importante destacar que o Brasil abriga três das dez maiores hidrelétricas do mundo: a Usina Itaipu Binacional, a Usina Belo Monte e a Usina Tucuruí. Essas usinas não apenas contribuem para a segurança energética do país, mas também desempenham um papel crucial na economia, fornecendo energia para diversas atividades industriais e residenciais.
4.1 Usina de Itaipu

- Localização: Rio Paraná, na fronteira entre Brasil e Paraguai.
- Capacidade: 14.000 megawatts.
- Importância: É a maior usina hidrelétrica do Brasil e embora não tenha a maior capacidade instalada quando comparada a outras usinas hidrelétricas, esse empreendimento binacional conta com a maior produção de energia do mundo. Abastece principalmente as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil (além de uma parte do território paraguaio)
4.2 Usina de Belo Monte

- Localização: Rio Xingu, no estado do Pará.
- Capacidade: Potência instalada de 11.233 megawatts (em operação parcial).
- Importância: A Usina de Belo Monte é a maior usina hidrelétrica 100% do Brasil. Conforme pesquisa do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Belo Monte é a hidrelétrica que menos emite gases poluentes no bioma amazônico. O estudo constatou que a usina é quinta mais eficiente do Brasil em termos de taxa de intensidade e calcula que, entre 5 e 10 anos, a área alagada do empreendimento apresente progressivamente emissões ainda menores. Ainda assim, gerou controvérsias devido aos impactos socioambientais associados à sua construção.
4.3 Usina de Tucuruí

- Localização: Rio Tocantins, no estado do Pará.
- Capacidade: 8.370 megawatts.
- Importância: Foi a maior obra de engenharia já realizada na Amazônia, um marco da engenharia mundial de barragens, pela sua magnitude, execução e operação. A construção era fundamental para a implantação do Projeto Grande Carajás, que visava o desenvolvimento da Amazônia Oriental.
5. Impactos Ambientais da Construção de Usinas Hidrelétricas
A construção de usinas hidrelétricas, embora essencial para a geração de energia renovável, traz consigo uma série de impactos ambientais que precisam ser cuidadosamente considerados. Esses impactos podem afetar não apenas o ecossistema local, mas também as comunidades que dependem dos recursos hídricos.
5.1 Alteração de Ecossistemas
A criação de reservatórios para usinas hidrelétricas frequentemente resulta na inundação de grandes áreas de terra, o que pode levar à destruição de habitats naturais. Florestas, campos e áreas de vegetação nativa são submersos, resultando na perda de biodiversidade. Espécies de fauna e flora que dependem desses habitats podem ser extintas ou forçadas a migrar, o que altera a dinâmica ecológica da região.
5.2 Qualidade da Água
A construção de barragens pode afetar a qualidade da água nos rios. A estagnação da água nos reservatórios pode levar ao aumento da temperatura e à diminuição da oxigenação, criando condições favoráveis para a proliferação de algas e outros organismos que podem comprometer a qualidade da água. Isso não apenas afeta a vida aquática, mas também pode impactar a saúde das comunidades que dependem dessa água para consumo e irrigação.
5.3 Deslocamento de Comunidades
A construção de usinas hidrelétricas muitas vezes resulta no deslocamento de comunidades ribeirinhas. Essas populações, que têm uma relação histórica e cultural com a terra, enfrentam a perda de suas casas e meios de subsistência. A falta de consulta e compensação adequada pode gerar conflitos sociais e descontentamento, além de impactos psicológicos e culturais significativos.
6. Futuro Sustentável da Energia Renovável
O futuro da energia renovável passa necessariamente pela gestão sustentável das bacias hidrográficas. Isso envolve a implementação de práticas que minimizem os impactos ambientais, como:
- Avaliação de Impacto Ambiental (AIA): Realizar estudos detalhados antes da construção de usinas para entender os possíveis impactos e desenvolver estratégias de mitigação.
- Reflorestamento e Recuperação de Áreas Degradadas: Promover programas de reflorestamento nas áreas afetadas para restaurar habitats e aumentar a biodiversidade.
- Participação Comunitária: Incluir as comunidades locais no processo de tomada de decisão, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e suas necessidades atendidas.
REFERÊNCIAS
Belo Monte se destaca como a maior geradora de energia elétrica do Brasil em janeiro. Disponível em: <https://www.norteenergiasa.com.br/noticias/belo-monte-se-destaca-como-a-maior-geradora-de-energia-eletrica-do-brasil-em-janeiro-1486>. Acesso em: 10 abr. 2025.
Energia Elétrica Fontes. Disponível em: <https://www.epe.gov.br/pt/areas-de-atuacao/energia-eletrica/expansao-da-geracao/fontes>.
História da Usina Hidrelétrica de Tucuruí – Museu Virtual Tucuruí. Disponível em: <https://museuvirtualtucurui.com.br/blog/historia-da-usina-hidreletrica-de-tucurui/>.
PEREIRA, G. M. HISTÓRIA DAS USINAS HIDRELÉTRICAS. REVISTA BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E AMBIENTAL, v. 11, n. 1, p. 117–127, 2021.
UHE Belo Monte – Norte Energia. Disponível em: <https://www.norteenergiasa.com.br/uhe-belo-monte/>
Usina de Itaipu: Conheça tudo sobre a hidrelétrica de Foz do Iguaçu! Disponível em: <https://turismoitaipu.com.br/a-usina-itaipu/>.