O que é o fenômeno la niña e por que ele ocorre?

Foto do autor

By Éder Civitarese

Introdução

O El Niño e a La Niña são fenômenos climáticos interligados que fazem parte de um sistema maior conhecido como Oscilação Sul do El Niño (ENOS). Esse sistema ocorre no Oceano Pacífico Equatorial e na atmosfera que o envolve.

A fase El Niño é caracterizada pelo aquecimento das águas do Pacífico Equatorial, resultando em temperaturas superiores à média histórica. Em contraste, a fase La Niña ocorre quando essas águas estão mais frias do que o normal. 

As variações de temperatura no oceano têm um impacto significativo nos padrões climáticos globais, afetando a circulação atmosférica, o transporte de umidade, e, consequentemente, a temperatura e a precipitação em diversas regiões do mundo.

Compreender esses fenômenos é essencial, pois suas consequências podem influenciar desde a agricultura até a ocorrência de desastres naturais em diferentes partes do planeta.

O que é o fenômeno La Niña?

O fenômeno La Niña, de forma resumida, é caracterizado pelo resfriamento anormal no Oceano Pacífico equatorial, cerca de 2 a 4 graus e está associado tanto a enchentes quanto secas, dependendo da região.

O La Niña possui três classificações principais: quanto ao tipo, podem ser canônicos ou modoki; quanto à intensidade, pode ser fraco, moderado ou forte; e quanto à duração pode ser curta, média ou longa.

Mas então por que ocorre esse resfriamento fora do padrão? Bom, aí precisamos antes compreender como funciona a dinâmica dos ventos alísios e da corrente de Humboldt em situação de normalidade.

Ventos alísios

Os ventos alísios são formados pelo deslocamento das massas de ar frio em zonas de alta pressão dos trópicos para a zona equatorial de baixa pressão. Como o ar quente é mais leve que o ar frio, as circulações de ar ocorrem por meio das diferenças de pressão atmosférica.

Ventos alisios

No hemisfério norte os alísios sopram de nordeste para sudoeste, sendo chamados de alísios do Norte.

Já no hemisfério sul, os alísios do Sul, sopram de sudeste para noroeste.

Corrente de Humboldt

Agora vamos entender a Corrente de Humboldt. Também conhecida como Corrente do Peru, tem sua origem perto da Antártida  e se desloca no sentido norte do Oceano Pacífico passando pela costa ocidental da América do Sul, nos litorais do Chile e do Peru.

Corrente de humboldt

Ela é considerada a mais fria do mundo, com uma temperatura aproximadamente 8º C abaixo da média do oceano.

A Corrente de Humboldt é uma corrente de ressurgência, e aí temos mais um conceito para entendermos.

A ressurgência é um fenômeno oceanográfico que ocorre quando águas profundas e frias sobem para a superfície, substituindo as águas superficiais mais quentes.

ressurgência

Quando os ventos alísios estão em condição de normalidade no pacífico equatorial, eles empurram a camada superficial de água mais quente para a direção oeste, atingindo principalmente o sudeste asiático e a Oceania, resultando na ressurgência da água mais fria e densa trazida pela Corrente de Humboldt.

Dessa forma, a Corrente de Humboldt também impacta no clima da região, ajudando a manter a costa do Peru e do Chile mais fria do que outras regiões na mesma latitude.

Além disso, as águas mais frias e profundas provenientes da corrente de humboldt trazem nutrientes para a superfície, promovendo a produtividade biológica e sustentando ecossistemas marinhos ricos em vida.

Esta corrente faz com que a costa do Peru e do Chile sejam uma das maiores áreas de pesca do mundo, com aproximadamente 20% da pesca mundial. 

Como ocorre o La Ninã?

Agora que entendemos a dinâmica do Corrente de Humboldt e dos ventos alísios, vamos passar a compreender o fenômeno da La Nina propriamente dito.

Quando estamos sob a influência do fenômeno La Niña, os ventos alísios se fortalecem e uma maior quantidade de águas superficiais quentes é levada para o oeste, causando um aumento do aquecimento no sudeste da Ásia e leste da Oceania.

As águas quentes que ficam “represadas” mais a oeste do Pacífico evaporam e formam nuvens de chuva mais intensas que podem causar enchentes, principalmente na Austrália. 

Ocorre também um aumento no fenômeno de ressurgência. Esse aumento na ressurgência leva ao resfriamento das águas do Pacífico e do oeste da América do Sul.

A ocorrência do fenômeno La Niña resulta em um clima mais estável e com menos chuvas no pacífico equatorial. No entanto, a umidade do ar se desloca para outras regiões, que acabam recebendo precipitações acima do esperado.

No Brasil, as regiões Norte e Nordeste experimentam um aumento no índice de chuvas durante o La Niña,

Enquanto o Sul do país geralmente enfrenta períodos de estiagem mais prolongados.

La niña nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro
FONTE: CLIMATOLOGIA DA UFF

Os estados das regiões Norte e Nordeste do país apresentam volumes de chuva elevados, os quais podem atingir também o semiárido nordestino.

As frentes frias se tornam mais frequentes especialmente nos estados nordestinos, o que contribui para maiores índices pluviométricos.

A última ocorrência do fenômeno La Niña, que ocorreu entre 2021 e 2022, resultou em chuvas intensas e persistentes no sul da Bahia, causando um aumento na vazão dos rios e levando a enchentes severas em vários municípios.

Já na região sul do Brasil, ocorreu o oposto. Os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul vivenciaram uma seca severa, com longos períodos sem chuva, especialmente entre os meses de setembro e fevereiro, além de um aumento brusco nas temperaturas diárias.

Cabe ressaltar que o La Niña não define por si só um resultado climático específico, mas aumenta as chances de ocorrência de certas tendências que podem se confirmar de forma mais intensa ou não.

REFERÊNCIAS

El Niño e La Niña – CPTEC/INPE. Disponível em: <http://enos.cptec.inpe.br/>.

Ventos Alísios. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/ventos-alisios/>.

REDAÇÃO. El Niño (Fenômeno El Niño-Oscilação Sul – ENOS) – MegaWhat. Disponível em: <https://megawhat.energy/glossario/el-nino/>. Acesso em: 15 mar. 2025.

FREITAS, Eduardo de. “Corrente de Humboldt”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/corrente-humboldt.htm. Acesso em 15 de março de 2025.

El niño e la niña – Educação. Disponível em: <http://educacao.globo.com/artigo/el-nino-e-la-nina.html>. Acesso em: 15 mar. 2025.

Deixe um comentário